Dez depoimentos de professores que chocam ou comovem qualquer um
25/03/2016 20:08
Por Camila Torres, Rio de Janeiro / Imagem: pixabay
Durante quatro anos colhi livremente depoimentos de professores de sala de aula em todo o país. O alvo foi a educação básica das redes públicas estaduais e municipais. Ao todo, juntei mais de 1.200 falas sobre as experiências de cada um nas escolas. O objetivo é futuramente desenvolver um projeto de pós-graduação em torno disso.
Abaixo, apresento os dez depoimentos que mais me marcaram, embora, no geral, todos tenham convergido para um mesmo rumo: amarguras por um lado e esperança e coragem de lutar, por outro.
Veja: (Nomes fictícios)
- No meu primeiro dia de aula simplesmente chorei. A turma era superlotada, sem qualquer conforto. Um calor escaldante. Uma menina de 13 anos me disse: "Professora, a senhora é a terceira de Português que vem aqui em menos de um mês, a senhora não vai aguentar". Uma barulheira tomou conta da sala, quase ninguém me atendeu, me senti um lixo. Falei com a diretora e fui embora procurar outra escola. Continuo por continuar. (Graça Lopes, Teresina-PI)
- Em poucos meses pensei em desistir da profissão. Salários baixos, condições de trabalho ruins, humilhações diárias em sala de aula. Nada a ver com o que pensei para a minha vida. Me sinto já meio esgotada. No entanto, amigos me convenceram a continuar, sob o argumento de que é possível enfrentar o governo e conquistar um rumo melhor nessa profissão. Estou à espera disso, na luta. Não sei até quando vou resistir. (Cláudia Lins, Natal-RN)
- Nem sei o que dizer, mas confesso que levo as aulas do jeito que os alunos e os governos querem me levar, ou seja, no deboche. Não tenho vergonha de dizer: meu compromisso hoje é zero com essa profissão. Mas também não posso largar. (Luis Paulo, Curitiba-PR)
- Já cheguei até a ser espancado por um aluno dentro da escola. Sangrei por dentro e por fora. Tive que procurar auxílio psicológico. Hoje perdi a ilusão de que é possível fazer um trabalho sério nas escolas públicas, não apenas por conta dos baixos salários, mas porque governo algum nunca vai investir em lugar que só tem pobre. (Aluisio Ferreira, Guarulhos-SP)
- É tudo uma farsa. Se a gente age com rigor com os alunos e reprova os que não querem estudar, vem o governo e manda passar todo mundo. No entanto, diante de qualquer falha, logo aparece alguém para querer nos desmoralizar. Sinto-me uma desmotivada em relação a tudo isso. Só Deus pode me ajudar. (Célia Cruz, Rio de Janeiro-RJ)
- Durante muito tempo lutei para fazer um bom trabalho na escola. O que ganhei? Problemas nas cordas vocais, depressão e distúrbios circulatórios. Dinheiro e reconhecimento que é bom, jamais. Nem chorar consigo mais. (Pedro Henrique, Fortaleza-CE)
- A coisa não é fácil. Já levei literalmente muita porrada de alunos em sala de aula e da polícia, em greves. Mas resisti. Não dá mais para voltar atrás. A saída é lutar para melhorar a situação. (Lúcia campos, Porto Alegre-RS)
- Me desculpe, mas não consigo falar sobre isso. (Tânia Vaz, São Luis-MA)
- A coisa não é brincadeira. Funciono em sala de aula à base de calmantes. O governo nos trata como se não fôssemos ninguém. Confesso que não sei mais o que fazer. (Jorge Reis, Aracaju-SE)
- É preciso enfrentar. Antes, pensava que apenas os professores eram maltratados. Hoje, sei que o problema é de classe. Não há trabalhador bem tratado neste mundo, embora alguns tenham algumas vantagens a mais que outros. Vamos em frente. (Antônio Costa, Recife-PE)
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