Faltam nutricionistas nas escolas públicas e merenda escolar é nociva à saúde dos alunos, dizem especialistas
(Foto: Alex Pazuello)
"O que prevalece nas escolas públicas são os achocolatados, outras bebidas artificiais e biscoitos. 'São alimentos muito pobres em nutrientes, cheio de conservantes, que provocam alergias e contribuem para a obesidade nos jovens'. Uma das principais causas da pobreza nutricional da merenda escolar nas escolas públicas é justamente a falta de um profissional da nutrição na ampla maioria delas"
Por Camilla Torres, Brasília | Segundo dados do Censo Escolar 2016, divulgado pelo MEC, apenas no ensino fundamental das redes municipal e estadual de educação há cerca de 20 milhões de alunos matriculados em todo o país. O Censo Escolar 2015 apontou cerca de outras 10 milhões de matrículas no Ensino Médio e EJA, também na área pública.
Todo esse contigente de alunos tem direito a merenda escolar diária, cujos recursos vêm em parte do governo federal. Com a edição da PEC 241, do governo Temer, verbas devem cair, vez que a medida limita gastos nas áreas de saúde e educação.
Essa alimentação escolar dos estudantes, no entanto e de acordo com diretrizes do próprio poder público, deveria ser quantitativa e qualitativamente adequada, com o intuito de nutrir de forma satisfatória o alunado, para facilitar-lhe a aprendizagem e combater outros problemas, como a evasão escolar.
Mas não é bem isso o que de fato acontece. No geral, a merenda escolar ofertada nas escolas públicas brasileiras é ruim e até prejudicial à saúde dos alunos. Segundo a Dra Flávia A Lustosa, o que prevalece nos estabelecimentos de ensino em todo o país são os achocolatados, outras bebidas industrializadas artificiais e biscoitos. "São alimentos muito pobres em nutrientes, cheio de conservantes, que provocam alergias e contribuem para a obesidade nos jovens", diz a nutricionista, que é pesquisadora em nutrição de crianças e adolescentes.
Uma das principais causas da pobreza nutricional da merenda escolar nas escolas públicas é justamente a falta de um profissional da nutrição na ampla maioria delas, diz o economista Flávio C Medina, especialista em finanças públicas voltadas para a administração escolar. "Praticamente não há nutricionistas que atendam as escolas, a merenda é comprada e feita de improviso, sem qualquer critério técnico ou supervisão", pondera.
Diz ainda o Dr Medina que as entidades de classe que representam os profissionais da nutrição devem pressionar os governos para que realizem concursos públicos que contenham mais vagas para nutricionistas. Segundo a Associação Brasileira de Nutrição - Asbran - há no Brasil 81.745 nutricionistas e 1.427 técnicos em nutrição. No entanto, diz o Dr. Medina, "em concursos da educação, vagas para essa área é quase zero".